A gravidez é um período de mudanças e expectativas para qualquer mulher. No entanto, as preocupações e os desafios se multiplicam quando se trata de HIV na gestação.
O HIV, ou Vírus da Imunodeficiência Humana, é uma condição crônica que atinge o sistema imunológico e, quando não é devidamente controlado, pode ter sérias repercussões tanto para a mãe quanto para o bebê durante a gestação.
Neste artigo, vamos explicar o que é transmissão vertical, como preveni-la, métodos de diagnóstico confiáveis e quais os riscos que a infecção por esse vírus pode representar para a saúde da grávida e da criança.
Ao longo das próximas linhas, fornecemos também informações detalhadas e baseadas em evidências sobre o tratamento do HIV em gestantes, abordando questões essenciais que podem surgir durante esse período crucial.
Você vai entender como funciona a terapia antirretroviral na gravidez e quais são os principais avanços da medicina em relação às estratégias terapêuticas que possibilitam uma gestação saudável e que garantem o bem-estar da mulher e do bebê.
O HIV, ou Vírus da Imunodeficiência Humana, é um agente infeccioso que afeta o sistema imunológico. Ele pertence à categoria dos retrovírus, o que significa que possui uma molécula de RNA como material genético e usa uma enzima chamada transcriptase reversa para se replicar no organismo humano.
O HIV tem duas principais variantes: o HIV-1 e o HIV-2, sendo a primeira a mais comum e a segunda a menos prevalente.
Esse vírus ataca as células CD4 (também chamadas de células T ou linfócitos T-helper), que são indispensáveis para a plena operatividade do sistema de defesa do organismo.
O vírus invade essas células, replicando-se e destruindo-as no processo. Conforme a imunidade enfraquece devido à perda dessas células de defesa, o corpo se torna vulnerável a infecções oportunistas (tuberculose, pneumonia, etc) e ao desenvolvimento de cânceres, caracterizando a fase de imunossupressão.
A infecção pelo HIV é, comumente, assintomática nas fases iniciais. No entanto, se não for tratada, pode progredir para a AIDS, que é a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
Considerada a fase mais avançada da infecção, a AIDS caracteriza-se pela imunossupressão e manifestações clínicas graves.
O diagnóstico do HIV é feito por meio de testes que apontam a presença do vírus ou de anticorpos no sangue. Atualmente, a terapia com medicamentos antirretrovirais (TAR) tem se mostrado eficaz no tratamento do HIV, ajudando a controlar a replicação do vírus.
Veja também: PrEP contra HIV: o que é e como funciona a Profilaxia Pré-Exposição?
O HIV na gestação é uma preocupação importante de saúde pública, e a transmissão vertical é um conceito fundamental a ser compreendido. Ela ocorre quando o vírus é transmitido da mãe para o filho no decorrer da gravidez, durante o parto ou na amamentação.
O HIV pode passar da mãe para o feto ainda no útero, por meio da corrente sanguínea. Isso é possível se o vírus atravessar a barreira placentária.
No processo de parto, o bebê pode ter contato com o sangue, os fluidos genitais ou as secreções maternas que contenham o HIV, o que aumenta o risco de infecção.
O HIV também pode ser transmitido por meio do leite da mãe. Portanto, a amamentação é contraindicada para lactantes que vivem com HIV, mesmo que sua carga viral esteja indetectável.
Vale a pena ressaltar que, com os cuidados adequados, é possível reduzir significativamente a taxa de transmissão vertical do HIV.
Leia também: O que não comer durante a amamentação? Conheça os principais alimentos
A testagem em gestantes é uma parte essencial do cuidado pré-natal para garantir a saúde da mãe e a prevenção da transmissão do HIV para o bebê.
Abaixo, explicamos detalhadamente como esse processo funciona.
No início da gravidez, todas as gestantes são rotineiramente submetidas a uma triagem inicial para detecção do HIV como parte do pré-natal. Isso envolve a coleta de uma pequena amostra de sangue, geralmente por meio de um exame simples.
A primeira testagem de HIV em gestantes verifica a presença de anticorpos contra o HIV no sangue. Tais anticorpos são produzidos pelo sistema de defesa em reação ao vírus invasor.
Se o teste for positivo, isso indica uma possível infecção por HIV. Nesse caso, testes adicionais são realizados para confirmar o diagnóstico.
Em caso de resultado positivo no teste de anticorpos, um segundo teste de confirmação é conduzido. Geralmente, o teste de Western blot é usado para confirmar a presença do vírus no organismo.
Se o diagnóstico de infecção por HIV for confirmado, a equipe médica realiza uma avaliação da carga viral, que mensura o volume de vírus presente no sangue.
Isso é fundamental para determinar a gravidade da infecção e guiar o tratamento.
Se a gestante for diagnosticada com HIV, ela receberá aconselhamento e informações sobre as opções de tratamento disponíveis, incluindo a terapia antirretroviral (TAR).
Aderir ao tratamento é essencial para reduzir a carga viral e minimizar a probabilidade de transmitir o HIV para o bebê.
Durante a gestação, a mulher que vive com HIV é acompanhada de perto por profissionais de saúde para garantir que o tratamento seja eficaz e que sua carga viral seja mantida indetectável, reduzindo as chances de transmissão vertical.
É de extrema importância que todas as gestantes façam o teste como parte do cuidado pré-natal.
Este conteúdo também pode te interessar: Quando iniciar o pré-natal? Qual é a importância para a saúde da mulher e do bebê?
A carga viral indetectável, no contexto do HIV, refere-se à quantidade tão baixa do vírus no sangue de uma pessoa que ele nem chega a ser detectado pelos testes de carga viral comuns.
Porém, isso não significa que o HIV tenha sido eliminado, mas sim que está presente em níveis extremamente baixos.
Geralmente, para ser considerada indetectável, a carga viral deve ser inferior a 20 ou a 50 cópias do HIV por mililitro de sangue, de acordo com os padrões de testes clínicos mais sensíveis.
Alcançar a carga viral indetectável é um objetivo crucial no tratamento do HIV em gestantes e no público em geral, pois minimiza expressivamente o risco de transmissão e preserva a saúde do paciente.
Os sintomas do HIV na gestação podem variar de uma mulher para outra. Inclusive, é possível que algumas mulheres estejam infectadas e permaneçam assintomáticas por bastante tempo.
No entanto, alguns sinais podem ser percebidos. Confira abaixo os principais.
Caso a futura mamãe apresente um ou mais desses sintomas, é fundamental procurar o serviço de saúde para realizar os testes necessários, descartar ou confirmar o diagnóstico e garantir a saúde tanto da gestante como do bebê.
Veja também: Primeiros sintomas do HIV: em quanto tempo aparecem e como tratar?
Os cuidados com a gestante com HIV começam pelo diagnóstico preciso da infecção – feito por meio de testes de triagem e de confirmação – e pela avaliação da carga viral.
Após o diagnóstico, o médico conduz uma avaliação clínica ampla para identificar o estágio da infecção pelo HIV, a saúde geral da gestante e do feto e a presença de outras condições médicas.
A partir dessas informações, o médico infectologista pode traçar o plano terapêutico mais adequado para cada caso.
Geralmente, a terapia antirretroviral na gravidez (TAR) envolve a combinação de diferentes medicamentos que visam inibir a sobrevivência e reprodução do vírus e reduzir ao máximo a carga viral no sangue.
Existem diferentes esquemas de TAR. A escolha depende de fatores como a carga viral, a contagem de células CD4, a presença de resistência a medicamentos e a tolerância individual.
Os medicamentos que costumam ser prescritos incluem:
Esses medicamentos interferem na replicação do vírus ao incorporar-se ao DNA viral.
Os IPs bloqueiam a atividade da protease viral, essencial para a maturação do vírus.
Esses medicamentos impedem que o vírus integre seu material genético nas células do hospedeiro.
Embora menos comuns, alguns medicamentos são usados em circunstâncias específicas.
A adesão rigorosa ao tratamento é crucial para o seu sucesso. Os medicamentos antirretrovirais devem ser administrados segundo a prescrição do médico, na dosagem e horários corretos. Isso ajuda a manter a carga viral indetectável e a prevenir a resistência a medicamentos.
A gestante é acompanhada de perto por profissionais de saúde para monitorar a eficácia do tratamento e a saúde em geral.
A escolha dos medicamentos da TAR é feita com base em avaliações clínicas individuais e pode depender da resistência do vírus a ativos específicos, histórico de tratamento prévio, efeitos colaterais e considerações sobre a segurança do bebê.
O aconselhamento pré-natal para gestantes com HIV é importante por diversas razões. Primeiramente, fornece informações claras e precisas sobre a infecção e o tratamento, permitindo que a mulher tome decisões informadas sobre sua saúde e a do seu bebê.
Além disso, o aconselhamento ajuda a reduzir o estigma e o medo relacionados ao HIV, promovendo a aceitação da condição.
Ainda, é possível conscientizar as grávidas que receberam o diagnóstico positivo para HIV sobre a necessidade de aderir ao tratamento, garantindo que elas compreendam a importância dos medicamentos para manter a carga viral indetectável e prevenir a transmissão vertical.
A equipe de pré-natal fornece também suporte emocional e psicológico, auxiliando na adaptação à nova realidade.
Os cuidados com a gestante com HIV também servem para evitar que o bebê seja contaminado com o vírus. Para isso, costuma-se adotar as seguintes práticas.
Leia também: Gestação de alto risco: o que significa? Veja os principais cuidados
FAQ
Certamente. É possível que gestantes com HIV optem pelo parto vaginal. No entanto, a carga viral no sangue precisa se manter indetectável, uma vez que a transmissão do vírus pode ocorrer durante o processo de parto.
Sim. Após o parto, é possível que o recém-nascido receba temporariamente tratamentos antirretrovirais variados, adaptados conforme a condição viral da mãe. Geralmente, o acompanhamento médico é mantido até que a criança complete um ano e meio de vida.
Não. O HIV pode ser transmitido verticalmente pelo leite materno, tornando a amamentação desaconselhável para pessoas portadoras do vírus – mesmo que apresentem carga viral indetectável.
As informações neste site não têm a intenção de substituir uma consulta pessoal com um médico, farmacêutico, enfermeiro ou outro profissional de saúde qualificados.
O leitor não deve desconsiderar aconselhamento médico nem adiar a busca por aconselhamento médico devido a alguma informação encontrada neste site.
Procure sempre um médico para que ele possa lhe auxiliar no seu caso específico.