Já pensou se, em vez de uma única identidade, uma pessoa tivesse várias, cada uma com suas próprias histórias, memórias e características distintas? Este é o intrigante e complexo mundo do Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) – ou identidade múltipla.
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), estima-se que 1,5% da população tenha TDI. Porém, no cenário das condições psicológicas, o TDI se destaca como uma das mais enigmáticas e incompreendidas.
Pensando nisso, elaboramos este guia para explicar tudo o que você precisa saber sobre o que é Transtorno Dissociativo de Identidade.
Ao longo das próximas linhas, você vai entender como age uma pessoa com TDI, quais são as causas e como é feito o diagnóstico de TDI.
Continue a leitura e descubra também os principais mitos sobre o Transtorno Dissociativo de Identidade e onde é possível encontrar apoio para pacientes com TDI.
Podemos definir o que é Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), antes conhecido como Transtorno de Personalidade Múltipla, como uma condição psicológica rara na qual um indivíduo apresenta mais de uma identidade distintas entre si ou personalidades alternadas.
Muitas vezes chamadas de “alter egos”, cada uma dessas personalidades pode ser dotada de características únicas, incluindo memórias, crenças e formas de agir.
É possível que tais mudanças na identidade ocorram de forma súbita e involuntária, juntamente com lapsos de memória — que são períodos em que a pessoa não se lembra do que aconteceu enquanto uma personalidade específica estava no controle.
Um sistema TDI, abreviação para Transtorno Dissociativo de Identidade”, refere-se a um conjunto de personalidades ou identidades diferentes que “convivem” dentro de um mesmo indivíduo. Cada uma dessas identidades, chamadas “alter egos”, possui características, memórias e comportamentos próprios.
Uma pessoa com TDI pode apresentar comportamentos e experiências específicas que resultam da presença de múltiplas identidades ou personalidades dentro de sua psique.
Dentre os sintomas mais comuns associados a o que é Transtorno Dissociativo de Identidade, podemos destacar os seguintes.
Essa é a característica principal do TDI. A pessoa diagnosticada com esse transtorno
A pessoa pode alternar entre personalidades distintas ou estados de alter ego, cada um com suas próprias características e memórias.
Cada alter pode ter seu próprio nome, idade, gênero, características, habilidades, memórias e até mesmo sotaques.
Quando um alter ego assume o controle da pessoa, isso pode resultar em mudanças marcantes no comportamento, na maneira de falar e nas preferências.
Por exemplo, um alter pode ser extrovertido e amigável, enquanto outro pode ser reservado e tímido. Isso tende a causar mudanças drásticas nas interações sociais e no estilo de vida da pessoa.
Trata-se da perda de memória que não tem relação com causas orgânicas, como aquelas decorrentes de lesões cerebrais.
Quando um alter está no controle, o indivíduo pode passar por episódios de lapsos de memória em relação ao que ocorreu durante esse período.
Ainda, o tempo em que uma das personalidades permanece ativa pode variar entre minutos e até mesmo dias.
A pessoa com TDI pode agir com impulsividade em diferentes situações e apresentar comportamentos autodestrutivos – como autolesão ou abuso de substâncias para lidar com o sofrimento.
Além disso, o indivíduo pode manifestar sintomas de ansiedade e depressão devido ao intenso conflito interno entre suas personalidades.
Pessoas com TDI podem experimentar distúrbios do sono, como insônia e pesadelos frequentes.
Vale a pena ressaltar que a forma como age uma pessoa com TDI pode variar de maneira considerável de um indivíduo para outro. Afinal, as características das personalidades alternadas e a gravidade dos sintomas podem ser amplamente diferentes.
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Não existe ainda uma causa exata do TDI. No entanto, apesar de essa condição não ser totalmente compreendida, acredita-se que ela possa ser resultado de traumas significativos na infância, como abuso sexual, psicológico ou físico.
Esses traumas podem desencadear uma reação de “defesa” psicológica, que consiste na fragmentação da personalidade como uma forma de lidar com o sofrimento extremo.
Entenda abaixo outras possíveis causas do TDI.
Em alguns casos, a observação de figuras de autoridade ou modelos com comportamentos dissociativos, como pais que também têm TDI, pode influenciar o desenvolvimento do transtorno em crianças.
Algumas pessoas podem ter uma vulnerabilidade psicológica que as torna mais propensas a desenvolver o TDI em resposta a eventos traumáticos.
Isso pode incluir aspectos de personalidade, como alta sugestionabilidade, capacidade de “desligar” da realidade facilmente e dificuldade em gerenciar emoções mais intensas.
Além do trauma, fatores inerentes ao ambiente que cercam a pessoa, como falta de apoio familiar, negligência emocional ou instabilidade no âmbito doméstico, podem favorecer o desenvolvimento do TDI.
IMPORTANTE
Nem todas as pessoas que passaram por eventos traumáticos na infância desenvolvem o TDI. Além disso, não é possível prever com certeza quem desenvolverá a condição.
O diagnóstico de TDI é complexo e requer a avaliação cuidadosa e completa de um profissional de saúde mental habilitado, como um psiquiatra ou psicólogo.
Para diagnosticar esse transtorno, costuma-se seguir algumas etapas.
O primeiro passo para fazer o diagnóstico de Transtorno Dissociativo de Identidade consiste em uma entrevista clínica detalhada com o paciente – em alguns casos, os familiares também são convidados a participar da entrevista.
O profissional de saúde mental fará perguntas ao paciente sobre seus sintomas, histórico médico e familiar e eventos traumáticos passados – especialmente na infância.
Essa etapa é importante para estabelecer uma relação de confiança para que o indivíduo se sinta confortável para compartilhar suas experiências.
Após o questionamento inicial e mais generalista, o profissional responsável por conduzir o diagnóstico buscará identificar padrões de sintomas dissociativos, como lapsos de memória e mudanças significativas no comportamento ou na personalidade.
Além disso, também serão investigados eventos traumáticos que possam estar relacionados ao desenvolvimento do TDI.
Os sintomas dissociativos são cruciais para distinguir o TDI de outras condições psicológicas.
Por isso, é feita uma avaliação dos sintomas dissociativos apresentados. Para que se siga rumo à confirmação do diagnóstico de TDI, é imprescindível que haja a presença de duas ou mais identidades ou personalidades que se diferem entre si e lapsos de memória entre as manifestações de cada personalidade.
Para confirmar que se trata de um caso de TDI, deve-se excluir outras condições cujos sintomas são semelhantes e que podem ser confundidos com os de Transtorno Dissociativo de Identidade – como Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e esquizofrenia.
É comum que pessoas com TDI também apresentem sintomas de ansiedade, depressão e outros transtornos mentais. Tendo isso em vista, o profissional de saúde avaliará se o indivíduo manifesta esses sintomas e como eles podem interagir com o TDI.
Um diagnóstico preciso de TDI também deve levar em conta a perspectiva de profissionais de outras áreas da saúde, como neurologistas. No caso dos especialistas em neurologia, a intenção é descartar condições médicas que podem ser “confundidas” com TDI, como epilepsia ou lesões cerebrais.
Além do diagnóstico, é importante avaliar como o TDI afeta a vida diária e a funcionalidade do paciente. Isso ajuda a planejar o tratamento e o suporte necessário.
É importante pontuar que o diagnóstico do TDI pode ser uma tarefa desafiadora – muitas vezes não ocorrendo em uma única consulta de avaliação. Isso se deve ao fato de que os sintomas tendem a variar significativamente de uma pessoa para outra.
Os pacientes pacientes podem não estar cientes de todas as suas identidades ou lapsos de memória. Portanto, a avaliação cuidadosa e a experiência do profissional de saúde mental são essenciais para um diagnóstico preciso.
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Sim. Uma vez diagnosticado, o TDI pode ser tratado com psicoterapia, terapia cognitivo-comportamental e terapia de integração. Apesar da longa jornada, muitas pessoas que aderem ao tratamento atingem uma melhora significativa na qualidade de vida.
Entenda como funcionam as abordagens terapêuticas para Transtorno Dissociativo de Identidade.
O objetivo dessa abordagem é ajudar a pessoa a se comunicar e a cooperar com seus diferentes alters, trabalhando na integração gradual das identidades fragmentadas.
A terapia de integração envolve a fusão das identidades em uma personalidade única e funcional.
Para obter esse resultado, o terapeuta pode trabalhar diretamente com as diferentes identidades visando compreender suas necessidades, experiências e traumas individuais. É possível, inclusive, promover a comunicação entre os alters para incentivar a cooperação e a integração.
Tal processo costuma ser lento e requer muita paciência e persistência.
A TCC ajuda a pessoa a apontar e transformar pensamentos disfuncionais, emoções e comportamentos associados ao TDI. Também pode ensinar habilidades para enfrentar e lidar com os sintomas dissociativos.
A intenção da terapia de apoio é fornecer um ambiente seguro para que a pessoa com TDI discuta seus sintomas, traumas e desafios no enfrentamento dessa condição. Isso pode ajudar no alívio do estresse e na compreensão das próprias experiências.
Pode ser que o médico que acompanha o paciente durante o tratamento de TDI prescreva alguns medicamentos para lidar com sintomas específicos, como ansiedade, depressão e distúrbios do sono.
No entanto, nenhum medicamento ainda é capaz de tratar diretamente o TDI; a medicação é utilizada para complementar a psicoterapia.
Se você já se questionou sobre as diferentes partes que compõem sua identidade ou conhece alguém que enfrenta essa experiência, saiba que é possível solicitar apoio para TDI em organizações focadas em saúde mental.
As unidades básicas de saúde também podem fazer os devidos encaminhamentos para os pacientes que sofrem dessa condição.
É de extrema importância desmistificar equívocos comuns que cercam o Transtorno Dissociativo de Identidade. Pensando nisso, separamos aqui os 5 principais mitos em torno do TDI que merecem ser esclarecidos.
O TDI não é um comportamento fingido. As pessoas com esse transtorno têm experiências reais de alternância de identidades, as quais são involuntárias e podem ser extremamente perturbadoras para a pessoa afetada.
Não é verdade que todas as identidades alternadas em uma pessoa com TDI sejam perigosas ou violentas. Cada alter pode ter seu próprio conjunto de características e aspectos comportamentais – sendo algumas identidades mais problemáticas do que outras -, mas a maioria não é violenta.
O TDI e a esquizofrenia são condições diferentes. Enquanto o TDI envolve múltiplas identidades distintas, a esquizofrenia se caracteriza por episódios de alucinações, delírios e desconexão com a realidade.
O TDI não é uma condição contagiosa. Ou seja, ele não pode ser transmitido a outras pessoas. Trata-se de um transtorno psicológico que se desenvolve individualmente em resposta a traumas passados.
Embora o tratamento do TDI possa ser longo e desafiador, muitas pessoas diagnosticadas com o transtorno conseguem obter melhorias significativas na qualidade de vida com o tratamento adequado – que inclui psicoterapia, terapia cognitivo-comportamental e terapia de integração.
Então, o que achou deste guia sobre o que é Transtorno Dissociativo de Identidade? Ficaram claras as nuanças do TDI?
Para finalizar este conteúdo, vale a pena frisar que nem todas as mudanças de personalidade ou lapsos de memória são indicativos desse transtorno.
Como você pôde conferir, o diagnóstico é feito a partir de análises comportamentais detalhadas.
Portanto, é fundamental procurar ajuda profissional se você ou alguém que você conhece estiver enfrentando sintomas que levantem suspeitas de TDI ou qualquer outro problema de saúde mental.