A desnutrição infantil é um problema que voltou a crescer no Brasil. De natureza clínico-social, essa condição está atrelada não somente à escassez de alimentos nos lares dos mais pobres, mas também à qualidade da comida que é oferecida às crianças – além de algumas condições do trato gastrointestinal que podem levar a casos de desnutrição.
De acordo com um levantamento feito pelo Datafolha, um terço das famílias que possuem pelo menos uma criança de até 6 anos de idade são afetadas pela insegurança alimentar. Ou seja, elas não sabem quando farão a próxima refeição, o que contribui para o quadro de desnutrição infantil.
Outros dados importantes que precisamos mencionar se referem ao estudo Panorama da Obesidade de Crianças e Adolescentes, divulgado em julho de 2022 pelo Instituto Desiderata.
O estudo revelou que, de 2018 a 2021, a desnutrição entre crianças e adolescentes de até 19 anos no Brasil cresceu de 4,8% para 5,3%.
De acordo com dados do Observa Infância, iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para coletar e divulgar dados referentes à saúde de crianças com até 5 anos, houve um aumento nas hospitalizações infantis em decorrência da má nutrição.
Em 2021, no caso de crianças que sequer completaram 1 ano de idade, foram cerca de 8 internações por dia, em média, devido à desnutrição.
A cada 100 mil recém-nascidos, 113 precisaram ser hospitalizados por causa de deficiências nutricionais. Em comparação aos últimos 13 anos, esse é o maior número de internações.
A Fundação Abrinq também fez um levantamento, o qual mostrou que mais de 700 mil crianças sofrem com algum nível de desnutrição.
Tendo em vista tudo isso, elaboramos aqui um conteúdo bem completo que vai explicar tudo o que você precisa saber sobre:
Continue a leitura até o final para conferir um segmento bônus sobre as principais causas para a desnutrição em idosos.
É considerado como desnutrição infantil o quadro em que crianças e adolescentes não consomem a quantidade adequada de alimentos e calorias para se desenvolver de forma saudável ou quando o corpo não os absorve da maneira adequada.
Apesar de estar comumente atrelada à fome e ao baixo peso corporal, a desnutrição infantil também tem a ver com a qualidade dos alimentos que são colocados à disposição para as crianças comerem – como é o caso dos ultraprocessados e ricos em sódio e açúcares.
É por isso que crianças com sobrepeso também podem apresentar um quadro de desnutrição, pois não consomem as quantidades ideais de nutrientes em suas refeições.
Além disso, há os casos de desnutrição em decorrência de problemas de saúde que dificultam a absorção adequada de vitaminas e minerais necessários para suprir as necessidades energéticas do organismo.
Como bem acabamos de mencionar, nem sempre uma criança desnutrida será magra demais. Na verdade, são comuns os casos de crianças com quadro de obesidade e que estão com desnutrição.
Quando isso acontece, dá-se o nome de “fome oculta”. Ou seja, a criança não sente fome em si (no sentido de estar com vontade de comer e não ter nada ou quantidades insuficientes de alimentos para comer).
Porém, os alimentos que a criança ingere não possuem as quantidades adequadas de nutrientes para que ela se desenvolva de maneira saudável.
A desnutrição infantil pode estar relacionada a um conjunto de fatores clínicos, econômicos e sociais.
O desmame precoce, a falta de acesso ao saneamento básico e a dificuldade financeira para comprar alimentos de qualidade são alguns exemplos de possíveis causas para a má nutrição de crianças e adolescentes brasileiros.
Nesse sentido, para entendermos os diferentes tipos de desnutrição infantil, é preciso passarmos pelo conceito de insegurança alimentar.
Basicamente, a insegurança alimentar é uma situação em que um indivíduo ou uma família não tem acesso a quantidades ideais de alimentos que precisa consumir diariamente. Não há uma certeza sobre quando será feita a próxima refeição – tampouco qual alimento será colocado à mesa.
Existem três níveis de insegurança alimentar:
Na insegurança alimentar do tipo leve, existe sim uma preocupação sobre o acesso futuro a refeições. Os alimentos não chegam a faltar; no entanto, eles são mantidos em quantidades mínimas.
Quando a insegurança alimentar é do tipo moderada, a situação se agrava um pouco. A quantidade de alimento disponível para as refeições diárias encontra-se abaixo do limite ideal para o organismo.
Em sua forma mais grave, a insegurança alimentar leva à privação severa de comida. Aqui, a pessoa literalmente passa fome, não tem absolutamente nada para comer, não há acesso às quantidades calóricas mínimas para atender suas necessidades energéticas. E o pior: não há previsão de quando a pessoa vai conseguir se alimentar corretamente.
Leia também: Alimentação e saúde: quais são os impactos físicos e mentais?
Entendidos os níveis de insegurança alimentar, podemos apontar os tipos de desnutrição infantil de forma mais contextualizada.
Este é um tipo de desnutrição em que a criança não consegue crescer conforme o esperado para a idade. Sua musculatura e massa óssea passam por um atrofiamento, em que não há crescimento e, também, ocorre o enfraquecimento.
Crianças cronicamente desnutridas apresentam uma estatura baixa e desproporcional para a idade em que se encontram.
Esse tipo de desnutrição tem como principal causa a deficiência de vitamina A, ácido fólico, iodo, proteínas e minerais – principalmente o ferro – no período de primeira infância e, igualmente, durante a gestação.
Já na desnutrição do tipo aguda, a criança está muito abaixo do peso ideal para a sua altura.
Geralmente, esse tipo de desnutrição infantil está atrelado à condições de higiene inadequadas e ao preparo inadequado de alimentos (especialmente folhas, legumes, frutas, carnes mal cozidas etc.) – o que acarreta doenças gastrointestinais que dificultam o ganho de peso e a absorção de nutrientes.
Os sintomas de desnutrição infantil podem se manifestar de diferentes formas. O mais óbvio é a perda de peso. Crianças desnutridas tendem a ser muito magras, pois não ingerem as quantidades calóricas suficientes para suprir suas necessidades energéticas.
Porém, conforme já mostramos aqui neste conteúdo, crianças com sobrepeso podem apresentar quadros de desnutrição – uma vez que essa condição pode estar relacionada não só à quantidade, mas também à qualidade e ao valor nutritivo dos alimentos ingeridos.
Sendo assim, confira abaixo quais são os outros principais sintomas que indicam que a criança pode estar desnutrida.
Além desses sintomas, a desnutrição infantil leva a criança a desenvolver quadros de anemia – pela falta de ferro – e de hipotireoidismo – devido à baixa ingestão de nutrientes.
Veja também: Tipos de intolerância alimentar: quais são os mais comuns?
A desnutrição infantil não é uma condição que afeta as pessoas apenas enquanto são crianças. A fome e o consumo inadequado de nutrientes podem gerar impactos negativos também na fase adulta.
Por exemplo, adultos que passaram por períodos de desnutrição quando eram crianças estão mais propensos a desenvolver doenças cardiovasculares, como hipertensão, além de diabetes e obesidade.
Além disso, há o risco mais elevado de distúrbios psíquicos na vida adulta. Isso acontece porque é na infância – especificamente nos primeiros 6 anos de vida – que a maioria das conexões neurais são formadas.
Isto é, o período da primeira infância é crucial para o desenvolvimento de funções cognitivas, emocionais, intelectuais e sociais que serão extremamente importantes para a formação da criança como pessoa adulta.
Portanto, quando ela não tem acesso a uma nutrição adequada, a criança pode se tornar um adulto mais propenso a ter problemas psíquicos e de sociabilidade, como:
Bom, agora que você já sabe mais sobre o que é desnutrição, bem como seus sintomas e consequências na vida adulta, que tal conferir algumas recomendações nutricionais para desnutrição?
Separamos aqui 5 dicas que podem te ajudar a montar uma dieta equilibrada e nutritiva para suas crianças e, assim, evitar que elas desenvolvam algum quadro de desnutrição. Confira!
De fato, é um desafio para os pais e responsáveis convencer os pequenos a comer frutas, verduras e legumes.
No entanto, é de extrema importância inserir diferentes tipos de vitamina para desnutrição infantil, como as do complexo B e as vitaminas A e C. Há também os minerais indispensáveis para o desenvolvimento infantil, como ferro, magnésio e cálcio.
Todos esses nutrientes podem ser consumidos a partir de alimentos como:
O leite tem propriedades valiosas para o combate à desnutrição infantil, como: cálcio, vitaminas B2, B12, B6 e A, tiamina, fósforo, potássio, zinco e magnésio.
Logo, é essencial que a criança consuma, pelo menos, uma porção de laticínios por dia. Você pode oferecer para ela, além do leite integral, iogurte, queijos magros e leite fermentado do tipo Yakult. Este último, inclusive, é muito benéfico para o bom funcionamento da flora intestinal.
Se possível, tente inserir peixes no cardápio da criança, pelo menos uma vez na semana.
O peixe é rico em ômega 3, que contribui para o desenvolvimento cognitivo, visão, colesterol e saúde cardiovascular. Adicionalmente, o peixe é uma boa fonte de proteína – indispensável para o desenvolvimento do tecido muscular, regeneração celular e fortalecimento dos ossos.
Aveia em flocos, linhaça, chia, granola, arroz integral, nozes e castanha são exemplos de cereais e oleaginosas que podem ser incluídas nas refeições da criança.
Aliás, outros grãos, como lentilha, feijão, ervilha e milho, são fontes de nutrientes fundamentais para o desenvolvimento infantil.
Alimentos ultraprocessados são muito pobres em nutrientes e ricos em sódio, açúcares e conservantes.
Eles até podem ter uma taxa calórica elevada, mas não contribuem em nada para o combate à desnutrição infantil.
Portanto, evite dar para suas crianças alimentos embutidos, salgadinhos, guloseimas, refrigerantes e macarrão instantâneo, entre outros.
Saiba mais:
Além das crianças, os idosos podem sofrer com quadros de desnutrição. Dentre os principais motivos para que isso ocorra nessa fase da vida, vale a pena destacarmos:
Quando alcançamos uma faixa de idade mais avançada, nosso organismo enfrenta maior dificuldade para absorver os nutrientes de cada refeição.
Outra situação muito comum entre os idosos é a perda de apetite decorrente do uso de medicamentos e, também, da própria idade. Isso faz com que se sintam menos dispostos a se alimentar na frequência em quantidades ideais, prejudicando sua nutrição e ocasionando a perda de peso.
A partir dos 70 anos, os idosos tendem a deglutir os alimentos mais lentamente. Isso pode atrapalhar a ingestão e absorção adequada de nutrientes durante as refeições.
O suporte que o idoso recebe de profissionais responsáveis por cuidar dele e de seus próprios familiares pode interferir no quadro de desnutrição. O idoso precisa ser bem cuidado – emocional e fisicamente – e receber suas refeições na quantidade e na hora certa.
Uma dieta inadequada, em que faltam nutrientes e sobram açúcares, sódio e gordura, também contribui para a desnutrição em idosos.
Esses alimentos nada saudáveis favorecem o surgimento de desconfortos gástricos e intestinais. Assim, o idoso pode ficar menos receptivo às refeições diárias.
E então, o que você achou desse nosso guia sobre desnutrição infantil e, em especial, do último tópico bônus sobre as causas da desnutrição em idosos? Em ambos os casos, a alimentação equilibrada é a chave para uma vida mais saudável.
Para finalizar, separamos uma aspa que Cecília Araújo, médica pediatra especialista em neuropediatria, deu ao jornal digital Nexo:
“A primeira infância é um momento extremamente importante no desenvolvimento do ser humano e a qualidade da alimentação, das vivências e oportunidades inseridas na vida dessa criança, bem como sua educação, irão repercutir diretamente na saúde física e mental do adulto”.